Ainda Estou Aqui: Uma Memória Dolorosa que o Brasil Precisa Confrontar

Ainda Estou Aqui

livros que nos tocam profundamente por contarem histórias universais a partir de experiências intensamente pessoais. “Ainda Estou Aqui“, de Marcelo Rubens Paiva, é um desses raros exemplos em que a literatura se torna um testemunho histórico, um ato de resistência e, simultaneamente, uma declaração de amor.

Trinta e cinco anos após o sucesso de “Feliz Ano Velho”, Paiva retorna ao território das memórias familiares para narrar uma história que ficou incompleta por décadas: o desaparecimento, tortura e assassinato de seu pai, o deputado Rubens Paiva, durante a ditadura militar brasileira em 1971.

Mas o livro vai muito além disso – é também um tributo emocionante à sua mãe, Eunice Paiva, verdadeira protagonista desta narrativa.

O Coração da Obra: Eunice Paiva

Eunice emerge como uma figura de força extraordinária. De esposa de político a viúva forçada a reconstruir sua vida com cinco filhos, ela demonstra uma resiliência impressionante.

Mesmo após ser presa e interrogada por doze dias no DOI-Codi, Eunice não se dobrou. Voltou a estudar, tornou-se advogada e defensora dos direitos indígenas, enquanto simultaneamente lutava para descobrir a verdade sobre o destino do marido.

O relato adquire uma camada adicional de complexidade ao abordar os últimos anos de Eunice, em sua batalha contra o Alzheimer.

Há uma ironia dolorosa nesta perda gradual de memória em alguém que dedicou tanto de sua vida para que a memória de seu marido – e por extensão, a memória histórica do Brasil – não desaparecesse.

Um Documento Histórico Essencial

O livro ganha uma dimensão histórica crucial ao detalhar cronologicamente os eventos que levaram ao desaparecimento de Rubens Paiva e os subsequentes anos de busca por respostas.

“A morte do meu pai não tem fim”, escreve Paiva, destacando como somente em 2014, através da Comissão Nacional da Verdade, a família pôde finalmente ter respostas concretas sobre seu assassinato.

Paiva equilibra magistralmente os fatos históricos com os relatos íntimos e pessoais, criando uma obra que funciona tanto como documento histórico quanto como literatura memorialística de altíssima qualidade.

O resultado é um texto que ilumina um período obscuro da história brasileira, humanizando estatísticas e tornando visíveis os danos permanentes infligidos pela ditadura nas famílias brasileiras.

Trinta e cinco anos depois de Feliz ano velho , Marcelo Rubens Paiva traça uma história dramática da luta de sua família pela verdade. O livro que deu origem ao filme estrelado pela vencedora do Globo de Ouro Fernanda Torres e indicado a 3 categorias do Oscar 2025, incluindo Melhor filme.

A Escrita e o Estilo

A prosa de Paiva é direta, sensível e carregada de emoção contida. Há um equilíbrio notável entre a inevitável indignação diante da injustiça e uma ternura genuína ao retratar sua família.

O autor evita melodramas desnecessários, deixando que os próprios fatos carreguem a carga emocional da narrativa.

Particularmente poderosos são os momentos em que o autor conecta sua história familiar com a história coletiva do Brasil, demonstrando como as cicatrizes da ditadura permanecem abertas no tecido social brasileiro.

A narrativa não-linear, entrelaçando diferentes períodos, cria um retrato multidimensional tanto de Eunice quanto da sociedade brasileira em transformação.

Impacto Cultural e Alcance

Não é por acaso que “Ainda Estou Aqui” se tornou um fenômeno editorial, sendo adaptado para o cinema em 2024 sob a direção de Walter Salles, com Fernanda Torres no papel de Eunice, e recebendo indicações ao Oscar 2025.

A obra transcende o gênero memorialístico para se estabelecer como um marco cultural necessário para um país que ainda luta para confrontar adequadamente seu passado autoritário.

Como leitura obrigatória do vestibular da UFGD, o livro também atinge as novas gerações, convidando-as a conhecer uma história que, infelizmente, muitos prefeririam esquecer ou relativizar.

Considerações Finais: Ainda Estou Aqui

Ainda Estou Aqui” é daqueles livros que permanecem conosco muito tempo após a leitura. Ao narrar a história de uma mulher que se recusou a sucumbir à repressão e ao esquecimento, Marcelo Rubens Paiva oferece não apenas uma homenagem à sua mãe, mas também uma reflexão profunda sobre memória, resistência e a importância de confrontar as verdades dolorosas do passado.

Como ressaltam as avaliações internacionais do livro, esta é uma obra que deveria ser de leitura obrigatória para todos que desejam compreender as consequências duradouras dos regimes autoritários.

Em tempos de revisionismo histórico e relativização dos horrores da ditadura, “Ainda Estou Aqui” emerge como um testemunho essencial e emocionante de um período que não deve ser esquecido ou repetido.

Uma leitura necessária e transformadora, que cumpre o mais nobre papel da literatura: preservar a memória e promover reflexão sobre quem somos como sociedade.

5/5 estrelas

1. O livro “Ainda Estou Aqui” é baseado em fatos reais?

Sim, “Ainda Estou Aqui” é uma obra autobiográfica que relata fatos reais da vida do autor Marcelo Rubens Paiva e sua família.

O livro narra o desaparecimento, tortura e assassinato de seu pai, o deputado Rubens Paiva, durante a ditadura militar brasileira em 1971, bem como a trajetória de sua mãe, Eunice Paiva, que lutou durante décadas para descobrir a verdade sobre o que aconteceu com seu marido e para reconstruir sua vida criando cinco filhos sozinha.

2. Quem é Eunice Paiva e por que ela é tão importante na narrativa?

Eunice Paiva é a mãe do autor e a verdadeira protagonista do livro. Após o desaparecimento de seu marido, ela se reinventou: voltou a estudar, tornou-se advogada e defensora dos direitos indígenas, enquanto simultaneamente lutava para descobrir a verdade sobre o destino do marido.

O título do livro, “Ainda Estou Aqui”, remete tanto à resistência de Eunice ao longo dos anos quanto à sua luta final contra o Alzheimer, doença que ironicamente afeta a memória de uma mulher que dedicou sua vida para que a memória histórica de seu marido e do Brasil não fosse apagada.

3. Como este livro se relaciona com “Feliz Ano Velho”, o outro famoso livro de Marcelo Rubens Paiva?

“Ainda Estou Aqui” foi publicado 35 anos após “Feliz Ano Velho” (1982), que foi o primeiro livro de Marcelo Rubens Paiva e relatava o acidente que o deixou tetraplégico.

Embora ambos sejam relatos autobiográficos, “Feliz Ano Velho” focava principalmente na experiência pessoal do autor após o acidente, enquanto “Ainda Estou Aqui” amplia o escopo para abordar a história familiar e a trajetória de sua mãe.

O novo livro também completa aspectos da história familiar que ficaram incompletos no primeiro livro, já que muitos detalhes sobre o destino de Rubens Paiva só foram esclarecidos décadas depois, com os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade em 2014.

4. O que torna este livro relevante para leitores contemporâneos, especialmente jovens?

A relevância contemporânea do livro está em seu papel como testemunho histórico de um período sombrio da história brasileira, cujas consequências ainda reverberam na sociedade atual.

Para jovens leitores, o livro oferece uma perspectiva humanizada sobre os impactos da ditadura militar nas famílias brasileiras, indo além das estatísticas e dos relatos oficiais. Sendo leitura obrigatória em vestibulares como o da UFGD, o livro também ajuda a nova geração a compreender aspectos da formação histórica e política do Brasil contemporâneo, especialmente em tempos de debates sobre memória histórica e revisitação desse período.

5. Como o livro foi recebido pela crítica e pelo público?

“Ainda Estou Aqui” teve uma recepção extremamente positiva tanto da crítica quanto do público, como demonstra sua avaliação de 4,8 estrelas na Amazon com mais de 8.800 avaliações.

O livro se tornou um sucesso editorial no Brasil e foi traduzido para diversos idiomas, incluindo inglês, espanhol, francês, italiano e alemão. Em 2024, foi adaptado para o cinema pelo diretor Walter Salles, com Fernanda Torres no papel de Eunice, recebendo o prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza e indicações ao Oscar 2025, o que ampliou ainda mais seu alcance e reconhecimento.

6. O livro apresenta informações históricas confiáveis sobre a ditadura militar brasileira?

Sim, o livro é considerado uma fonte confiável sobre aspectos da ditadura militar, especialmente no que diz respeito ao caso específico de Rubens Paiva.

Marcelo Rubens Paiva teve acesso a documentos oficiais e relatórios da Comissão Nacional da Verdade, além de relatos familiares e pesquisas históricas para reconstruir os eventos narrados.

O autor apresenta uma cronologia detalhada dos acontecimentos e contextualiza os fatos dentro do panorama político e histórico da época. Vale ressaltar que, embora contenha elementos subjetivos inerentes a qualquer relato memorialístico, as informações factuais apresentadas no livro são consistentes com os registros históricos disponíveis sobre o período.

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